Como Contar uma Notícia Trágica, Sem Traumas

-Alô?
-Alô!

-Ôh, Manel! E aí, meu velho? Tudo certinho?

-Tudo. Olha, estou a te ligar para devolver-lhe a chave do sítio.

-Tranqüilo, Manel. E aí? Gostou de lá?

-Ah, gostei sim... muito! Só tenho uma notícia ruim pra te dar...

-O quê?

-Teu papagaio morreu...

-O quê? O Eurico morreu? Não diga isso! Eu criei ele desde moleque! Já tinha 40 anos!

-Pois é...

-Mas... morreu de que?

-Comeu carne estragada.

-Quê!? Carne estragada? Mas como? Aí tinha ração pra ele! Que carne estragada era essa?

-Carne de cavalo.

-De cavalo? Que porra é essa?

-Dos teus cavalos.

-Puta que pariu, Manel... Como assim?

-É. Os teus cavalos morreram.

-Quê!?!?!?!?!? Na-não acredito!!!!! Era tudo puro sangue!!!! Os dez morreram????

-Morreram sim. Todos mortos.

-Mas... mo-morreram de que, Manel?!

-De cansaço... De carregar água.

-Que?!?!?! Tá de sacanagem, né? O sítio tem água encanada!

-Pois é... Mas era pra apagar o incêndio. Precisava de muita água.

-Peraí, peraí: incêndio?!?!?!

-É. Pegou fogo na porra toda. É.

-Meu Deus... Mas, por quê?!?!?!?! Diz, por favor!!!! Daonde surgiu esse incêndio???

-Das velas, né...

-Não, não... M-mas lá tem luz, porra! Aliás, tem tudo lá! Sauna, ar central, parabólica...

-Pois é. Mas tinha que ter vela. Já viu enterro sem vela?

-Enterro!?!?!?!?!?!?! Meu Deus!!!! Do caseiro? De algum outro funcionário? De quem?!?!?!?!

-Ora, da sua mãe. A coitadinha morreu.

-O quê!?!?!?!? A minha mãe morreu!?!?!?! Não!!!!- ouve-se uma queda.

-Alô? alô? Porra! Desmaiou? Ah, vai gostar de papagaio assim na puta que o pariu...